terça-feira, 7 de setembro de 2010

SILÊNCIO INTERIOR

(Lucy Dias Ramos)

No mundo atual, a poluição sonora é assustadora, principalmente nas grandes cidades. Não percebemos os sons da natureza ou das vozes das pessoas que nos falam em sua frequência normal. É difícil escutar mesmo que o queiramos, para dar atenção necessária, quando dialogamos com alguém, porque não estamos habituados a ouvir. Não falo de deficiência auditiva, mas da arte de ouvir o outro, hábito pouco conhecido pela maioria das pessoas...

Para escutar o outro, precisamos desenvolver a arte de perceber a voz interior que habita neste mundo apenas nosso, onde podemos nos recolher sem ser perturbados ou interrompidos por ninguém. Mas é preciso saber ouvir esta voz que fala no recôndito de nossa alma e estar receptivo para entender o que ela diz. Chamo esse recanto de minha alma de ilha do silêncio.

O hábito salutar da reflexão, da meditação nos concede este momento mágico no qual ouvimos esta voz interior e em silêncio sentimos que neste refúgio de paz estamos bem, aguçamos nossos sentidos e retornamos ao mundo dos sons mais aptos a entender o que se passa nele.

A melhor maneira de impedir que o tempo nos domine com suas restrições é
buscar neste mundo íntimo, através da meditação, o silêncio renovador que nos transmite a paz e a serenidade íntima. Paramos o tempo, impedimos suas limitações quando nos afastamos de tudo para meditar, refletir e orar em silêncio, escutando dentro de nós o que nossa percepção nos concede, ouvindo a voz da consciência lúcida ou entrando em sintonia com outros seres também aquietados em suas emoções que nos falam... Aprendemos a viver neste mundo temporariamente e retornamos mais conscientes do real objetivo da vida em sua grandeza.

Todos nós temos necessidade de buscar estes momentos de solidão, retirando-
nos para um lugar tranquilo onde possamos aquietar nossa mente por alguns minutos, relaxar e perceber o que se passa neste mundo inteiramente nosso onde os pensamentos são livres e a reflexão nos leva a percepções cada vez mais amplas.

Quando conseguimos nos refugiar dentro de nós mesmos, conseguimos muitos benefícios, ficamos mais serenos, interrompemos o fluxo da agitação que vive fora de nós, temos mais inspiração e aprendemos a escutar. Somente quem sabe escutar esta voz interior, consegue, realmente, ouvir o que o outro tem a dizer... Ouvir silenciosamente, sem pensar em nada além do que o outro
diz e assimilar sua fala, o que está nos comunicando ou ensinando.

Muitas pessoas não sabem ouvir. Enquanto o outro fala, estão pensando em outras coisas, pensamentos intrusos interrompem a audição, preparam ardilosamente o que irão responder ou como contestar o que ouvem ou pensam estar ouvindo...
Pensadores ilustres que deixaram marcas indeléveis de sua sabedoria, sabiam ouvir e nos recomendam sempre buscar o silêncio, ouvir a voz interior que fala
dentro de cada um de nós.

Joanna de Angelis nos ensina:
"Reserva-te o prazer do silêncio, diariamente, por alguns momentos.
O silêncio interior conceder-te-á harmonia, ensejando-te reflexões saudáveis e renovadoras. Mediante o seu contributo, disporás de um arsenal precioso de conceitos para apresentares, quando conversando, mantendo elevado o nível das propostas verbais, porque possuis discernimento e conseguiste armazenar idéias valiosas."(1)


Com a conceituação acima podemos entender melhor o valor que deveremos dar a estes momentos de reflexão e harmonia interior, em que estaremos angariando subsídios para o enfrentamento das lutas do cotidiano e enriquecendo nossos espíritos com temas edificantes, pensamentos enobrecidos ajudando-nos a manter um relacionamento de alto nível e equilibrado com todos os que caminham conosco. Além disso, estaremos melhorando consideravelmente nossa sintonia mental, o que nos propiciará a assistência amorosa dos benfeitores espirituais e companhias equilibradas nos
dois planos da vida.

Quando não conseguimos harmonizar nosso mundo íntimo, tumultuamos nossa vida de relação. Não se consegue a paz exterior quando o interior não esteja sereno e equilibrado. Ao contrário, quando tudo em torno de nós parece desabar e ameaçar-nos cem lutas e desagravos conseguimos manter a calma se estivermos intimamente em paz.

Joanna de Ângellis nos conclama a este hábito saudável:
"Necessitas, sim, de silêncio interior, para melhores reflexões e programações dignificantes em qualquer área do comportamento humano em que te encontres.
Aprende a calar e a meditar, a harmonizar-te e a não perder a serenidade na multidão desarvorada e falante.''(2)


O pensamento é força criadora e se o utilizarmos para o bem poderemos enriquecer nossa vivência de fluidos bons e saudáveis. Influenciando os outros, nosso pensamento gera simpatias ou aversões sempre em sintonia com o que emitimos. Sua influência se faz, também, sobre nós mesmos porque lhe sofremos diretamente as radiações positivas ou negativas com que o caracterizamos.

Léon Denis nos fala que "se meditarmos em assuntos elevados, na sabedoria, no dever, no sacrifício, nosso ser impregna-se, pouco a pouco, das qualidades de nosso pensamento. É por isso que a prece improvisada, ardente, o impulso da alma para as potencias infinitas, tem tanta virtude. Nesse diálogo solene do ser com sua causa, o influxo do Alto invade-nos e desperta sentidos novos. A compreensão, a consciência da vida aumenta e sentimos, melhor do que se pode exprimir, a gravidade o a grandeza da mais humilde das existências.

A oração, a comunhão pelo pensamento com o universo espiritual e divino, é o esforço da alma para a Beleza e para a Verdade eternas; é a entrada, por um instante, nas esferas da vida real e superior, aquela que não tem termo” . (3)


Por isso, meu irmão, não menospreze o momento íntimo no qual você busca na oração ou na meditação este recanto de sua alma, refúgio de paz para seu reequilíbrio psíquico e restauração das energias físicas.

Neste aprendizado, você logrará muitas vantagens e aprenderá a priorizar as coisas espirituais que constituem para todos nós aquele tesouro que a traça nem a ferrugem destroem...

Em certas horas de nossa vida. quando o sofrimento nos atinge dilacerando sonhos e magoando nosso coração, busquemos este mundo interior que nos acolhe e no qual recebemos as bênçãos dos céus, através da abnegação e solicitude dos benfeitores espirituais, sempre atentos às nossas necessidades maiores.

Voltaremos para as lutas na vida que aguarda o melhor de cada um de nós, revigorados e serenos como leais seguidores dos ensinamentos de Jesus que já sabem o que desejam neste mundo e qual o caminho a seguir!

Referências:
1 - FRANCO.Divaldo P. [Joanna de Ângelis] Jesus e Vida. 1ed.LEAL: Salvador, BA.
2007, p.2
2-ld.lb.p.31
3 – DENIS, Léon. O Problema do Ser, do Destino e da Dor. 26 ed.FEB: Rio de Janeiro, RJ.P.356.

Fonte: Revista Presença Espírita, maio/junho 2010 – Ano - n⁰ 278

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